Palavras de Cuca. Palavras que eu acredito que não são em vão. "Eu, Cuca, me comprometo a fazer parte das transformações. Não me sinto com conhecimento para falar a respeito com profundidade sobre o tema. Por isso, Antes de falar, eu preciso ouvir".
Eu, Mauro, também. Mais aspas de Cuca: "Hoje isso tudo não é só sobre mim". É isso, Cuca. Também é sobre quem, como eu, não refletiu. Não ponderou. Não falou. Não perguntou. Não ouviu. Nao deu bola. Nao sentiu. Também é a respeito de qualquer homem que erra como eu. Como todos.
Mais de Cuca. "Uma mulher que passa por qualquer tipo de violência não consegue superar." Também é sobre isso. O que também não sabemos. Não queríamos saber. E parece que tínhamos raiva de quem sabia...
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Mais Cuca: "O mundo está mudando para melhor. Nunca tinham me cobrado nada. Eu me calei porque a sociedade permitia que um homem se calasse. Eu não posso mais ficar calado. O silêncio soa como covardia".
É isso. Covardia nossa sobre uma violência não tem nome. E, certamente, na pior acepção, isso não é coisa de homem. Mais de Cuca. "O mundo do futebol ainda é um mundo com muito preconceito. Quero fazer parte dessa transformação. Pelo poder da educação. No mundo do futebol ainda achamos que podemos tudo. Inclusive desrespeitar a mulher."
Nunca podemos. Nunca pudemos. Eu, Mauro, não sou ninguém para dar lição de moral. Aliás, nenhuma lição. Mas sou alguém que precisa mudar. E não ficar apenas. Mudo. Lamentando para o espelho. Travesseiro. Ou apenas para a consciência calada.
Sou eu mais um entre milhões que precisam evoluir. Abrir a boca. Eu tenho que me posicionar. Não apenas ser contra. Mas estar a favor de quem há séculos precisa não de favor. Mas de respeito. Atenção. Segurança. Parceria. Ouvido. Ombro. Braço. Cabeça. Coração. Empatia. Humanidade.
Como no futebol, estamos todos no mesmo time. E não podemos apenas ficar na torcida. Precisamos mesmo entrar em campo. Jogando junto. Entrando firme contra os adversários. Aqui, de fato, inimigos. Mas não apenas da boca pra fora. Abrindo sim a boca. O coração. Ouvido. As entranhas. Entrando firme na discussão que entrou muito tarde em campo. Não fugindo do assunto. Não desprezando quem pela vida luta. Quando não apanha mesmo.
"Não é não". Sim. "Não é não". Sempre. E, sim, o homem precisa dizer "não" aos outros que erram. Erros desumanos. Erros que não podemos mais cometer. Tolerar. Esquecer. Silenciar. E, ainda pior, calar quem grita. E, aqui, quem grita tem mais do que razão. Tem sentimento.
Precisamos assumir os erros. Não delegar. Não deixar só para os delegados. E, quando pisamos na língua e na bola, que façamos como Tite que pediu desculpas pela primeira manifestação a respeito da condenação de Daniel Alves. Que retomemos a palavra mal empregada para a empenhar na necessária luta por justiça. Sem justiçamento.
O mundo do futebol precisa furar a bolha. Sair dela. Enxergar o mundo. As pessoas que tanto o amam e que, não poucas vezes, se sentem mesmo fora de jogo. Do campo.
Certas coisas do gramado nele ficam. E precisam mesmo ficar nas quatro linhas. Mas quando se perde a linha fora delas, não é caso para STJD. É para a justiça comum. Também para os incomuns.
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