Zagallo não jogava mais do que Pepe. Não fazia mais gols. Não chutava mais forte. Não driblava mais. Não cruzava. Mas ajudava demais Nilton Santos na cobertura pelo lado esquerdo. Recuava para armar o Brasil e abria espaço pela ponta-esquerda para Pelé em 1958, e Amarildo no bi mundial, em 1962. Quando, em campo, Zagallo praticamente sacramentou a gênese do 4-3-3 no mundo. Como um verdadeiro falso 11. Um que jogava pelos 11. Com e sem a bola.
Zagallo não era mais técnico que outros nomes quando assumiu o Brasil em crise, em março de 1970. Não mandava demais nas feras do demitido João Saldanha. Mas sabia ouvir. Também enxergar. Se meio que inventou o 4-3-3 em 1962, em 1970 criou a gênese do 4-2-3-1. Clodoaldo e Gerson no meio; Jairzinho mais espetado pela direita, Pelé atrás do centroavante Tostão, Rivellino mais aberto pela esquerda, mas também fechando no meio.
Zagallo em três meses fixou Félix na meta, improvisou Piazza na zaga, apostou em Everaldo na lateral, escalou Clodoaldo na cabeça da área, recuou Gerson, aceitou Pelé com Tostão na frente, insistiu com Rivellino na esquerda, recolocou Jair na ponta. Um time diferente daquele de Saldanha. A melhor seleção de todos os tempos.
Em 1974 não se achou nem dentro e nem fora de campo. Teimou, retrancou, não rolou. Mas, 20 anos depois, Zagallo não era o melhor nome para ser coordenador-técnico. Só que foi tetra ao lado de Parreira, em 1994. Essencial como escudo às críticas pesadas de todos os lados.
Não parecia Zagallo o nome certo para 1998. Mas o engolimos com prazer na Copa América em 1997. E perdemos com ele e o Brasil convulsionado como o Fenômeno na final em Paris.
Em 2002 foi penta comentando pela Globo. Voltou em 2006 coordenando Parreira. De novo Zidane pela frente. O Brasil saiu antes do final da Copa.
Torneio que nem Pelé esteve quatro vezes no gramado campeão mundial como o ponta Zagallo em 1958-62, como o técnico em 1970, e o coordenador em 1994.
Isto é Zagallo. Um técnico que em clubes no Brasil foi coadjuvante como era na seleção. Mas como personalidade, personagem e carisma, Zagallo foi um Zagallo.
O maior campeão.
Força e luz à família do Velho Lobo canarinho que partiu hoje.
COMENTÁRIOS